“A multidão estendeu seus mantos no caminho, outros cortavam ramos de árvores e os espalhavam na estrada. As multidões na frente e atrás dele clamavam: Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas!
Sem boa aparência, menosprezado, de carga, o jumento, ao longo da história da humanidade, serviu a reis e rainhas, impérios monárquicos, ditaduras e democracias. Sobreviveu às crises do Egito e salvou a humanidade no Saara quando de sua transformação de campo florido para deserto.
Mesmo debochado o jumento não se rende a insultos, pancadas e humilhações. Chamam-no de lento, lerdo, empacador, mas é na sua costa que a vida ainda segue por aí. Deboche? Não, utilidade! Na carga, contem fruto da roça – arroz, mandioca, feijão, milho, cana, mamão, batatas, abóboras, cactos, ossada para sabão. Sua rotina começa de manhã muito cedo. É nele que vem água do açude, lenha do campo, gente para a cidade.
De origem africana, o jegue pertence à família dos equídeos, é conhecido pela sua resistência e capacidade de suportar adversidades - calor intenso, fome, sede, vales e montanhas. A África, seu continente; o Egito, seu lugar; a Mesopotâmia sua região, o nordeste brasileiro sua preferência. Há milhares de anos foi domesticado pelo homem e há 489 é utilizado como mão de obra em diversas atividades humanas.
Na mesopotâmia, berço da humanidade, o jegue viu nascer os sinais primeiros da comunicação, a escrita, o primeiro código de leis, as cidades-estados e o sofrimento dos nômades atrás da subsistência. O jumento ouviu o choro do pai e o desespero da mãe sepultando filhos do deserto. Lembra da lenha, do cutelo transportados para o Moriá? Pois é! Foi num jumento que, por três dias, puxado por Isaque e tocado Abraão, levando o filho da promessa para nada, até o som do céu aparecer
“Abraão não faça nada! Agora sei que você teme a Deus, porque não me negou o seu único filho."
O pai com o coração dilacerado levando o próprio o filho para ser degolado e queimado no altar de lenha. No reino animal o jumento é tido como inteligente e sentimental, ele, seguramente, pressentiu a dor da degola e chorou com Abraão a proximidade da perda de Isaque.
Lembra da jumenta de Balaão? Ela o livrou da morte! Ele estava indo fazer coisas erradas e a jumenta viu o anjo na sua frente e desviou-se do caminho. Balaão a espanca! A jumenta fala, grita, reclama: “Por que me bates? Já te servi tantas vezes! Por que agora me bates? É de arrepiar! “O anjo aparece ao profeta com espada afiada e diz: “Por que bateu na jumenta? Se ela não tivesse desviado do caminho, eu o teria matado, mas a ela eu não feriria”. A dignidade que faltou ao profeta sobrou na jumenta.
Pense nisso!
Uma semana antes de ser crucificado em Jerusalém, Jesus manda os discípulos arriarem um jumento para Ele montar e entrar na cidade.
A orientação foi: “Se alguém perguntar alguma coisa, direis: “O Senhor precisa dele...”
Ele não escolheu uma carruagem puxada por cavalos brancos da corte, mas um jumento. Ele preferiu ser transportado no lombo da singeleza. Foi um tapa na cara dos romanos que achavam que Jesus era um usurpador de trono, que convocaria o povo para invadir a corte romana e tomar o poder, mas não, ele entra humildemente montado num jegue.
Diz o texto: “A multidão estendeu seus mantos no caminho, outros cortavam ramos de árvores e os espalhavam na estrada. As multidões na frente e atrás dele clamavam: Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas!
Quando Jesus entrou em Jerusalém, a cidade inteira ficou alvoroçada, e diziam:
Quem é este? E as multidões respondiam: Este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galileia”.
Qual era o transporte que o levava sob aplausos da multidão? Um jumento! Ele testemunhou a divisão da história do mundo, antes e depois da cruz.
Jesus disse: “O maior entre vocês deverá ser servo”.
O ministério de Jesus caracterizou-se não em "mandar" nos outros, mas servir às pessoas com amor, humildade e alegria.
Jumento é um animal-servo, vive a vida servindo! Nas feiras de agronegócio ele não entra para exposição de raça, perfil, nobreza, altivez, senão, quando modificado, alterado geneticamente.
Nos desfiles de cavalarias militares também ele não aparece, mas esteve presente e foi fundamental nas guerras dos primeiros séculos, transportando armas, água e alimentos para soldados.
"A quem interessa, levem-se em conta alguns países europeus, países mais ao Norte, interessa eu ou um entreguista na presidência da República? Um analfabeto? Um jumento, porque não dizer assim?".
Foi assim que o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro citou o presidente Lula num evento de filiação partidária em São Paulo.
Engasgado com a derrota para o Planalto, Bolsonaro procura alimentar-se do ódio que lhe é peculiar. Assim como o boi rumina capim, retornando-o à boca para mastigar de novo até sair sumo, faz Bolsonaro com o ódio para manter-se vivo. Rumina, remastiga, até sair o caldo da violência.
A fala do ex-presidente entristece o Brasil, especialmente ao nordeste brasileiro, onde o jegue é amigo de sofrimento do sertanejo. Às vezes sem pasto, se alimenta de cactos para não morrer de fome, mas não foge da luta, não deixa seu dono, não empaca, não reclama.
Digno é o jegue - nome popular do jumento. Tombá-lo como patrimônio nacional é preciso! Preservar a sua espécie é necessária! Respeitá-lo, é reconhecer seu currículo universal e sua labuta como servo do sertão.
Viva o jumento!
SOBRE O AUTOR:
-Bacharel em Direito - UNIFAN - Centro Universitário Alfredo Nascer. – Aparecida de Goiânia – GO-Bacharel Livre em Teologia - FATHEO - Faculdade Teológica do Distrito Federal; -Ex-Secretário Municipal de Administração – Município de Paragominas – PA; -Ex-Secretário Municipal de Terras – Município de Paragominas – PA; -Ex-Assessor Parlamentar – Câmara dos Deputados; -Ex-Coordenador de Projetos da Secretaria do Trabalho – Aparecida de Goiânia – GO; - Compositor gospel.
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