"Se queremos de fato transformar a saúde animal e pública em SC precisamos de ações planejadas, com base científica, amplamente financiadas e descentralizadas"
O Governo de Santa Catarina anunciou com grande alarde o que chamou de “maior programa estadual de castração animal do país”, destinando R$ 18 milhões para a realização de cerca de 90 mil castrações entre 2025 e 2026. Embora o anúncio soe promissor, a análise técnica revela uma realidade preocupante: a medida é, na prática, uma política midiática com alcance limitado e impacto questionável.
A expectativa gerada pelo programa rapidamente esbarra nos números. Com uma população estimada de 7,6 milhões de habitantes, Santa Catarina pode abrigar até 9 milhões de cães e gatos, segundo projeções baseadas na média de 1,2 animal por habitante estudada em Imbituba. Diante disso, as 90 mil castrações previstas representam uma cobertura ínfima — uma para cada 176 habitantes, se consideradas ao longo de dois anos. Enquanto isso, municípios como Imbituba, com políticas consistentes desde 2017, realizam mais de 1400 castrações por ano, atingindo proporções muito mais eficazes.
Outro problema estrutural do programa estadual é sua restrição a municípios com menos de 100 mil habitantes, excluindo os 15 maiores, que concentram cerca de metade da população catarinense. Tal limitação ignora o caráter intermunicipal da problemática animal, como o abandono e a migração de animais entre cidades, tornando a política fragmentada e pouco eficiente.
Além da limitação orçamentária e territorial, a iniciativa carece de embasamento técnico. Faltam dados oficiais sobre a real população de cães e gatos no estado, metas claras, estratégias de médio e longo prazo, bem como integração com políticas de educação ambiental, guarda responsável, rastreabilidade e fiscalização. Países que avançaram no controle populacional animal investiram em ações estruturadas, multidisciplinares e contínuas, não em soluções pontuais travestidas de grandes feitos.
Há ainda um risco silencioso, mas real: ao criar a impressão de que o problema está sendo resolvido, o programa pode desmobilizar gestores municipais, que acreditam estar recebendo apoio suficiente. Em Imbituba, por exemplo, a tentativa de se adequar ao modelo estadual resultou na migração da gestão do bem-estar animal da Secretaria de Saúde para a do Meio Ambiente, o que reduziu drasticamente o investimento disponível em 2025— de mais de 2 mil castrações em 2024 para apenas 350, com os R$ 70 mil que serão recebidos do governo estadual.
A realidade enfrentada diariamente por protetores e profissionais da causa animal está distante da propaganda oficial. O abandono continua crescente, os abrigos estão sobrecarregados e os animais seguem expostos a situações de risco e sofrimento. Enquanto isso, o governo promove uma política insuficiente como se fosse a solução definitiva.
Se queremos de fato transformar a saúde animal e pública em Santa Catarina, precisamos de ações planejadas, com base científica, amplamente financiadas e descentralizadas. É necessário reconhecer que os problemas não têm fronteiras municipais e que a saúde animal está intrinsecamente ligada à saúde humana e ambiental. Sem isso, continuaremos prisioneiros de promessas vistosas e resultados pífios, enquanto a realidade dos animais permanece esquecida.
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